24.10.23

a profundíssima tristeza da polícia ortográfica

quando as pessoas à nossa volta
começam todas a dar o mesmo erro 

d   e   v   a   g   a   r 

tão devagar que a princípio pensamos ter ouvido mal
e por fim o erro já está em todo o lado 
então perguntamos 
por que é que dizes se eu ver, aviso-te
quando correto é dizer se eu vir, aviso-te? 
e uma a uma cada pessoa responde 
como se tivesse ensaiado com as outras

como se estivessem estado escondidas a combinar
atrás do muro da escola de ser estúpido 
lá ao fundo 

vir é do verbo vir
ver é que é do verbo ver 

é que é

e nós 
com profundíssima tristeza 
sim, mas não 

oui, mais non

vir é o futuro do conjuntivo do verbo ver
o futuro do conjuntivo do verbo vir é vier 
e respondem-nos distraidamente 
ah, sim? 

sobrevém um resto de amor-próprio em forma de melindre
o tom de voz muda para ofendido quando acrescentam 

tu também não pões maiúsculas nos poemas 
não sabes, é?

tralha

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