«Begin afresh, afresh, afresh.»
Sábado de madrugada, os lódãos em frente à minha casa tinham os ramos cheios de grãos gordos. Só isso, pareceu-me, embora tenha dito para dentro, depois de regressar da janela, que a noite cheirava como cheiram as noites na primavera. Suponho que algures no emaranhado de ramos das árvores já tinham rebentado folhas ou estavam nesse momento a rebentar, uma coisa não visível, só cheiro. Nunca antes tive uma casa em frente a lódãos. São uns vinte, velhos e altos. Ramos retorcidos. Muito retorcidos. De tal forma que quando as árvores estão despidas não se consegue ver a arquitectura do outro lado da praça, apenas a nuvem cinza acastanhada dos ramos. E à noite, no Inverno, facilmente eu acreditaria, ao vê-las tão paradas e negras, que estão atentas e conscientes. Mas o que sobretudo começa a misturar-se com a minha percepção das estações, de tal forma que me será difícil viver em frente a outras árvores, é o cheiro da rebentação destas folhas. Domingo de manhã ainda não as havia visíveis mas toda a praça estava verde. Hoje são visíveis, mínimas, e o cheiro está por toda a parte. Agora, quando abro as janelas para arejar a casa, misturado com o cheiro seco do sol, chega este das folhas novas dos lódãos: é doce, é morno e enche-nos os gestos de princípios.
«The trees are coming into leaf
Like something almost being said;
The recent buds relax and spread,
Their greenness is a kind of grief.
Is it that they are born again
And we grow old? No, they die too,
Their yearly trick of looking new
Is written down in rings of grain.
Yet still the unresting castles thresh
In fullgrown thickness every May.
Last year is dead, they seem to say,
Begin afresh, afresh, afresh.»
Philip Larkin - The Trees