De início, pensei que estivessem a falar de alienação religiosa *
No autocarro.
Ela - Ora aí está um belo dia!
Ele - Diziam eles que chovia e olhe só...
Ela - É verdade. Está aí um problema jeitoso.
Ele - Está, está. Mas isso não dizem eles. Diziam que chovia e é o que se vê.
Ela - Um dia de praia.
Ele - E diziam que chovia e não chove!
Ela - Uma tristeza.
Ele - Sabe o que isto é?
Ela - Uma tragédia.
Ele - Passam a vida a olhar
Ela - Uma desgraça.
Ele - para cima em vez de se preocuparem com o que está cá
Ela - As plantas, os animais...
Ele - em baixo, isso é que é!
Ela - Tudo a morrer.
Ele - Põem lá em cima aqueles aparelhos todos, para verem se alguém vive lá em cima, quem é que vive lá em cima, e depois dá nisto: não chove! Isto é que é minha senhora.
Ela - Ah, pois.
Ele - Em vez de olharem para baixo, olham para cima e a Terra vai-se estragando com aqueles aparelhos deles de olhar para cima. Sondas ou lá o que é.
Ela - Pois é, nos pequeninos, como nós, é que eles não pensam...!
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* O que não anda assim tão longe da verdade, dada a presença fortíssima de uma entidade sobrenatural durante toda a conversa: eles.