1.6.05

As flores das tílias

Sinto falta de férias, o monitor torna-se violento, fujo do computador sempre que possível. A proximidade do dia em que terei, por fim, um scanner (houve quem durante muitos meses ouvisse a mesma conversa com um simples sofá), também me impacienta no que respeita a postar seja o que for que venha da máquina digital. Sofro de vício de dependência de fotografias imperfeitas. Um scanner significa poder digitalizar as fotografias não digitais, isto é, aquelas que trazem pelo menos cento e quarenta e uma tonalidades de cada cor ou igual variedade de cinzentos, consoante a luz, sem contar com as cagadelas de mosca e um ou outro fungo de elevado valor nutritivo.

Todos os dias, passo pelo jardim do Campo Santana. O jacarandá grande ainda não floriu; um outro, pequeno, perto da árvore que tem a frase de Unamuno, um jacarandá de nada que parece mais um ramo de pé espetado na terra, está todo azul. Mas do que eu gosto mesmo nesse jardim, de paixão, mais do que tudo nesta altura do ano, é das flores das tílias. Cheirá-las, parar, olhar para cima e vê-las. Vê-las de forma a que uma flor seja a única coisa em frente aos olhos, vê-las em ramadas, vê-las em molhos amarelos no túnel que os ramos formam por cima da rua. As flores das tílias foram o grande júbilo da primeira Primavera que passei nesta parte da cidade. As tílias, que eu então não sabia que eram tílias, marquei-as, nesse ano, como as árvores das flores amarelas, embora o prazer impensável de andar debaixo delas se tenha sobreposto à consciência das considerações verbais. Há muitas, muitas tílias no Campo Santana. E eu não me canso.


(fotografia daqui)

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