Vou ali e já venho. Já já.
Os Cavaleiros Camponeses são esquisitos com o calçado: tem de ser macio, tem de ser original, não pode deixar de ser clássico, tem de ser extremamente confortável, tem de durar dez anos, pode custar uma pequena fortuna, desde que cumpra esses requisitos. Os Cavaleiros Camponeses correram a Rua Augusta toda, depois as outras ruas todas da Baixa, e não conseguiram gostar de quaisquer sandálias. Os Cavaleiros Camponeses acham que as mulheres são estúpidas, na maioria, isto é, as que determinam o conteúdo das sapatarias, que devem ser umas pindéricas inúteis absolutas e que devem desconhecer o que é andar a pé e, o que é mais grave, que o raio do calçado suporta um esqueleto inteiro, músculos, movimentos, coisas fundamentais, que não se fazem, só se mimam. Por exemplo, com bom calçado. Então os Cavaleiros Camponeses foram às Amoreiras. Pensaram: cirúrgico. Pensaram: rápido e indolor, isto é - chegar, comprar umas sandálias e fugir de táxi de regresso a sítios onde pessoas não suspiram em frente a montras e onde Kralls e Dions continuam a poder evitar-se.
Os Cavaleiros Camponeses foram detidos pela Bulhosa. Ni! Os Cavaleiros Camponeses, que não são ricos – só esquisitos mesmo – gastaram metade da verba destinada às sandálias em livros. Não muitos. Entre eles, porém, um livro com muitas fotografias de Brassaï, que os Cavaleiros Camponeses viram ontem uma primeira vez e que é tão bonito que os Cavaleiros Camponeses só deram pela noite quando os olhos começaram a doer e a parte branca das fotografias passou a ser a coisa mais luminosa. Os Cavaleiros estão mais pobres, não estão descalços mas também não têm umas sandálias novas, mas gostam muito do livro novo de fotografia.
Paris, Prostituta/ Brassaï
1933
23.6.05
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