Entre as coisas mais antigas que recordo está o cheiro dos pinheiros. A resina cheira na floresta de uma maneira, junto à árvore de que escorre intensifica-se, e nos dedos tem também o cheiro da pele. No início da manhã é ácida e contida, como um canto alto ou o som de um violino. No calor do meio-dia é grave e larga, enche tudo. As agulhas, os troncos, as pinhas. O céu cheio de agulhas. A minha infância foi grande e feliz mas se quiser desenvolver, se quiser especificar, apontar, dizer onde, lembro-me do cheiro dos pinheiros, do sol filtrado a aparecer e a desaparecer na areia coberta de agulhas. Lá dentro estão todas as outras coisas. Um fio de cabelo da minha mãe e uma canção. O colo do meu pai. As noites grandes junto ao mar. O riso de menino do meu avô. Os caminhos romanos, uma bicicleta, uma figueira grande, girassóis mais altos do que eu, morangos, canais de rega, o eco da água dentro do poço. Não existe um fim para este desenrolar de imagens. Só o cheiro dos pinheiros no princípio.
Lisboa está coberta por um fumo que eu conheço. Em abstracto, acreditaria que o cheiro dos incêndios é sempre igualmente aflitivo e mais e mais triste com a repetição. Não é. Ardem pinheiros: sei que sim sem pensar, sem que mo digam, da mesma forma que sei que tenho olhos, braços, pés, um corpo capaz de formar gestos. Compreendo assim, sem que nada o fizesse prever e da pior maneira possível, o que é um templo.
5.8.05
coisas
mais coisas
húmus
a luz nas telhas
a noite dança
alec soth
alex maclean
alfredo cunha
alice in chains
andré kertész
anywhen
armi e danny
arthur dove
as árvores
aulas de CC
beatles
bergman
bompovo
brecht
bunny suicides
carl sandburg
cassandra wilson
cato salsa experience
centrifugação blogger
christian schad
cig harvey
coisas que ninguém diz e que toda a gente sabe
dan nelken
dave mckean
decisions
deus inventou o sexo
diário de bordo
ditty bops
e. e. cummings
el greco
ella fitzgerald
emil nolde
enid blyton
fausto bordalo dias
françois clouet
fredrik marsh
garcía lorca
geografia
gógol e kureishi
gonçalo m. tavares
góngora
hans baldung grien
hans cranach
horas da ciência
howe gelb
hp5
hyeyoung kim
i'm going away to wear you off my mind
ironia natalícia
jan van eyck
jesus na comida
jornal do insólito
josé carlos fernandes
ken rosenthal
lei bloguística
leitura de sobrevivência
león ferrari
louis jordan
madrid
maelesskircher
manuel alvarez bravo
mario abbatepaolo
matéria-prima
mau feitio
mauro fiorese
miles davis
missy gaido allen
monk
noronha da costa
o piano de tom jobim
philip larkin
piero de la francesca
ponce de léon
post de gaja
pronto-a-vestir
quadrado fi
Quadros que roubaria no Thyssen
quino
R.E.M.
raïssa venables
robert doisneau
rui knopfli
sarastro
sequoia sempervirens
sidney bechet
stieglitz
t.s.eliot
tennessee williams
tom chambers
trepadeira
universos múltiplos
você é um idiota
winslow homer
xavier seoane
yousuf karsh
zeca
zurbaran
tralha
cavaleiros electrónicos
oscavaleiroscamponesesATyahooDOTcom