23.9.05

Estação absoluta.

Agora, tudo escurece. Sobra menos luz depois do trabalho. As folhas das árvores estão mais amarelas e parecem mais pesadas ou mais próximas do chão. Um dia uma atira-se e as outras atiram-se todas a seguir, num bucólico suicídio colectivo (e barulhento e melodramático: por isso é que não há Outono em que eu não acabe por rever The Meaning of Life).

Tudo isto porque fui encontrar, nos arquivos da Primavera, uma fotografia do meu jardim:



O esplendor foi interrompido. A luz é opaca. O verde é sol e é pó. Mais dia menos dia dou por mim a ouvir Nirvana ou Alice in Chains, com a mesma urgência de quem procura uma camisola de lã. Porque está mais frio. Porque os dias são cinzentos e curtos. Porque têm um cheiro, ou vão ter em breve, um cheiro de frio em ar morno e um cheiro a lenha que se repete todos os anos. O Outono é uma invenção do olfacto. É também uma invenção da luz cinzenta muito clara e da chuva tímida. E das esplanadas de cadeiras molhadas. Reconstruída a memória nessas evidências, os anos diluem-se. Só há um Outono e recomeçou. É aqui que me esperam todos os fantasmas. Um deles tem uma rosa para mim.

tralha

cavaleiros electrónicos

oscavaleiroscamponesesATyahooDOTcom

camponeses