Gerações
E o trabalho maior deste bordado
na toalha de renda
deitada sobre a mesa
A imitar-lhe os sons,
escrever com finas letras
um tempo que não fuja
nem se enrede
Um fio tão renda em finíssima cor
como cansaço, minúsculo,
voraz
Ah, crueldade azul
desta toalha
antiga sobre a mesa!
Uma raposa não a venceria,
um uivo de leão seria pouco
para Ihe descrever este tom
frágil,
estes entrelaçados como esponjas
tão de coral, talvez
Mas essa timidez seria rasa:
poderoso fio de aço
pudesse porventura nalgum tom.
Mas pouco
(A minha avó
criou esta toalha
como quem gera
um louco)
Ana Luísa Amaral
Gótica (2002)
[yours *]
E o trabalho maior deste bordado
na toalha de renda
deitada sobre a mesa
A imitar-lhe os sons,
escrever com finas letras
um tempo que não fuja
nem se enrede
Um fio tão renda em finíssima cor
como cansaço, minúsculo,
voraz
Ah, crueldade azul
desta toalha
antiga sobre a mesa!
Uma raposa não a venceria,
um uivo de leão seria pouco
para Ihe descrever este tom
frágil,
estes entrelaçados como esponjas
tão de coral, talvez
Mas essa timidez seria rasa:
poderoso fio de aço
pudesse porventura nalgum tom.
Mas pouco
(A minha avó
criou esta toalha
como quem gera
um louco)
Ana Luísa Amaral
Gótica (2002)
[yours *]