8.12.05

O Jogador do Pião

Faz rodar o pião redondo tudo em volta
Atira a primavera e recupera o verão
Terras e tempos — tudo assume esse pião
que rodopia e rouba o chão à folha solta

Rasga o espaço num gesto ríspido de vida
Reergue o braço a prumo, arrisca — nessa roda
possível da maçã ao muro — a infância toda
Tudo é redondo e torna ao ponto de partida

O sol a sombra a cal os pássaros os pés
o adro a pedra o frio os plátanos... Quem és?
Voltas? rodas? regressas? rodopias? — Nada

Mão do breve pião, levanta ao céu a enxada:
que a vida arrebatada aos demais olhos seja
ao comprido coberta pelo chão da igreja

E Abril traz o Senhor e até esse esquece
o operário inútil imolado à messe

Ruy Belo > Boca Bilingue (1966)

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