Esses livros adoráveis
Andam a falar da Enid Blyton e d'Os Cinco. Pronto, li os blogs, pensei nisso, mas agora é que entrei em modo memória. Quando eu era miúda a minha mãe, que pretendia que eu passasse a ler livros com poucas ilustrações, também ocasionais e secundárias, levou-me um dia à livraria e comprou-me o primeiro volume d'Os Cinco, que se chamava «Os Cinco na Ilha do tesouro».
Encontrei a capa. Calma, que é linda:
Encontrei a capa. Calma, que é linda:
Esta capa é especialmente emocionante visto que – e dou-me conta disso agora – nela está de alguma forma gravada a intensidade da expectativa que senti quando a vi, só comparável ao prazer de leitura que se seguiu. Se eu quiser, lembro-me do cheiro deste primeiro livro. Também li os outros. Não os tive todos ao mesmo tempo. Havia, por vezes, quando eu tinha tempo e podia ser, o ritual de ir com os meus pais a uma livraria para comprar mais um, não quando o último se estava a acabar, mas quando já estava acabado. O que tornava o ritual ainda mais apetecível dado eu já precisar muito de outro.
Acabados os 21 volumes, tentei Os Sete e detestei, pelo que passei à colecção d' As Gémeas no Colégio de Santa Clara. Só seis volumes. E no mesmo Verão a colecção do Colégio das Quatro Torres. Outros meros seis volumes. Entretanto eu era um ano mais velha e quando estávamos em casa da minha avó, no Norte, deixavam-me ir pela rua, sozinha, à livraria que ficava, fica ainda, na mesma rua, buscar mais um. Eu animava-me toda ao entrar nessa livraria, havia um ou dois degraus depois da porta de entrada, e cada passo meu me soava a livro-novo-dentro-de-momentos.
Acabadas estas colecções, tentei um sucedâneo português d'Os Cinco e odiei. Mas foi também uma experiência nova, senti-me defraudada, achei que não era justo usar-se o bom nome d'Os Cinco para vender uma coisa tão má. A rejeição foi tão absoluta que deixei a meio esse livro.
O meu volume preferido d'Os Cinco:
Acabados os 21 volumes, tentei Os Sete e detestei, pelo que passei à colecção d' As Gémeas no Colégio de Santa Clara. Só seis volumes. E no mesmo Verão a colecção do Colégio das Quatro Torres. Outros meros seis volumes. Entretanto eu era um ano mais velha e quando estávamos em casa da minha avó, no Norte, deixavam-me ir pela rua, sozinha, à livraria que ficava, fica ainda, na mesma rua, buscar mais um. Eu animava-me toda ao entrar nessa livraria, havia um ou dois degraus depois da porta de entrada, e cada passo meu me soava a livro-novo-dentro-de-momentos.
Acabadas estas colecções, tentei um sucedâneo português d'Os Cinco e odiei. Mas foi também uma experiência nova, senti-me defraudada, achei que não era justo usar-se o bom nome d'Os Cinco para vender uma coisa tão má. A rejeição foi tão absoluta que deixei a meio esse livro.
O meu volume preferido d'Os Cinco:
Ainda sinto uns arrepios, agora. Lembro-me de um acampamento à beira de um lago de águas negras que, por força da descrição, eu sentia muito quietas e muito frias. Li o livro todo a sentir frio e nunca o frio foi tão bom. E se penso nisso, a estranha quietude que por vezes as árvores assumem, fora dos livros, foi-me dada a conhecer na descrição das águas desse lago e da forma como o barco dos Cinco deslizava sobre elas. É impressionante como isto anda tudo ligado.
O que eu achava sempre mais ou menos inexplicável era que os miúdos, nas capas, fossem por vezes diferentes. Percebia que eram só capas e aberto um livro voltava a imaginá-los iguais ao volume anterior – mas mais crescidos –, mas no íntimo achava que aquilo não estava bem. Quanto à série televisiva, vi alguns episódios, mas de longe os livros continham mais e maiores prazeres a cada momento e antes de cada momento. Definitivamente, os Cinco eram para ler, não para ver.
O que eu achava sempre mais ou menos inexplicável era que os miúdos, nas capas, fossem por vezes diferentes. Percebia que eram só capas e aberto um livro voltava a imaginá-los iguais ao volume anterior – mas mais crescidos –, mas no íntimo achava que aquilo não estava bem. Quanto à série televisiva, vi alguns episódios, mas de longe os livros continham mais e maiores prazeres a cada momento e antes de cada momento. Definitivamente, os Cinco eram para ler, não para ver.
Depois os autores diversificaram-se e eu cresci, ler continua a ser bom, mas às vezes sinto falta da sensação inicial de estar de férias, não ter quaisquer responsabilidades e sentir-me desaparecer dentro das histórias, enquanto tudo à minha volta também desaparece. Às vezes a noite caía e eu só me dava conta quando os olhos começavam a doer. Isso acontece agora, também, durante a leitura. Mas na infância a única coisa que eu tinha de fazer era acender a luz. Ou, melhor ainda, ouvia ao longe a voz do meu pai, que na verdade até estava perto, Então estás a ler às escuras? Ai esses olhos!, e ele acendia a luz. O livro continuava. Agora, quando a noite chega, acendo a luz, fecho o livro, penso no jantar e o dia seguinte é dia de trabalho. Não está de todo mal, mas está menos bem.
É por causa disso que eu às vezes tiro férias por dá cá aquela palha, férias que ninguém compreende, só eu. Fecho-me em casa, abro livros e desapareço - uma ilusão que começou com Os Cinco.
São fotografias da primeira edição inglesa do volume 14, intitulado "Five Have Plenty of Fun", de 1955, que o João comprou no alfarrabista mecânico. Em Portugal o mesmo volume chama-se "Os Cinco e os Raptores"... está tudo linkado no número catorze. Ontem tinha dito ao João que já não me lembrava desta aventura mas o resumo, no site Mistério Juvenil, deu-me um empurrão. É um livro que se passa num grande e sinistro castelo de paredes muito grossas, castelo esse que é rodeado por um pântano ou outra espécie de área de transposição difícil. Há muito nevoeiro, nessa história, e um cheiro desagradável a lodo. Se é mesmo o que estou a pensar essa aventura com os raptores foi uma das mais ricas em passagens secretas, túneis e escadas a subir e a descer por dentro de paredes.