10.1.06

«Talvez fosse boa ideia um de vós deixar uma mão de fora, para me pagar as nozes»

Há uns dois meses que me basta adormecer para que os sonhos, curtinhos, se sucedam uns aos outros. Tenho sonhado com praticamente toda a gente e todos os tempos da minha vida, além de sonhar com desconhecidos e com outras vidas (que não a minha). Isto anda a correr muito bem, parecem-me exercícios de aquecimento, e tenho esperança que não tardem os sonhos longos com histórias mais coerentes (mesmo se absurdas), quase tão porreiros como ir ao cinema e que me fazem ter vontade de ir dormir a horas decentes.

É que é perfeito, repare-se: uma pessoa tem de dormir, vai dormir mas, enquanto dorme, acontecem histórias, ideias, imagens e sons e, ao mesmo tempo, o corpo regenera para o dia seguinte. É como fazer directas a ver filmes sem as consequências nefastas das directas. Excelente. Só tenho pena de não conseguir provocar isto [aqui e aqui os sonhos, respectivamente, do terramoto e do sacerdote].

Ontem sonhei com o Repórter Lírico. Não percebi nada. Havia muita algazarra, o Repórter estava com a Lídia, encontrei-me com eles num mercado ao ar livre, o sol, muito, ia alto e eu achei que a hora devia andar à volta das onze e tal, meio-dia. Um vendedor, que era o Al Pacino e que estava vestido com jardineiras, enchia com nozes um saco enorme. Um saco de nozes como um saco de batatas. A Lídia disse-me Já viste como o Repórter está azul, Ana? Não deixes de ver. Eu vi, mas não o achei azul. Entretanto, o vendedor tinha acabado de encher o saco, que abria à nossa frente, para nos mostrar as nozes mas também à espera que entrássemos. Nada foi dito nesse sentido mas era essa a ideia, pelo que entrámos no saco das nozes com a naturalidade de quem entra num elevador. O vendedor deu uma lanterna a cada um, desejou-nos boa viagem e, quando ia atar o saco, disse Talvez fosse boa ideia um de vós deixar uma mão de fora, para me pagar as nozes. Rimo-nos. Escureceu. E começou outro sonho.

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